A população em situação de rua no Brasil cresceu 164% entre 2018 e 2024, de acordo com dados apresentados nesta quarta-feira, dia 11 de dezembro, pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Em agosto deste ano, o Cadastro Único (CadÚnico) registrava 308.277 pessoas em situação de rua, organizadas em 298.071 famílias, um salto significativo em relação às 116.799 pessoas contabilizadas em 2018.
Os dados integram a 37ª edição da série de estudos “Caderno de Estudos”, lançada pelo governo federal, que busca ampliar o diagnóstico sobre a população em situação de rua e aprimorar a eficácia das políticas públicas. Entre os fatores destacados pelos pesquisadores estão a falta de dados padronizados e consistentes, o que dificulta a integração dessa população em políticas externas, como as econômicas e ambientais.
Segundo o ministro Wellington Dias, os avanços no levantamento de informações permitiram o desenvolvimento do Plano Ruas Visíveis, uma política pública que coloca a produção e gestão de dados como eixo central. O trabalho foi conduzido por um Grupo de Trabalho Interinstitucional coordenado pelo Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, que elaborou uma análise abrangente com foco em dez temas.
O estudo destacou a diversidade da população em situação de rua, que inclui mulheres, idosos, crianças, adolescentes, pessoas com deficiência, LGBTQIA+, entre outros grupos, cada um enfrentando graus distintos de vulnerabilidade. A análise também revelou que jovens, pessoas negras e indígenas têm mais chances de pernoitar nas ruas do que em albergues, evidenciando um impacto desproporcional das desigualdades raciais nessa condição.
Para a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, a situação de rua é um fenômeno global, com raízes estruturais em questões raciais e socioeconômicas. “Esse cenário reflete os efeitos do racismo e das disputas éticas e étnicas, que aprofundam as desigualdades”, afirmou a ministra.
Os artigos apresentados no Caderno de Estudos discutem desde questões conceituais sobre a situação de rua até políticas públicas em andamento, como programas habitacionais e de transferência de renda, a exemplo do Bolsa Família. Entretanto, os pesquisadores enfatizaram a necessidade de ampliar os dados disponíveis, uma vez que o CadÚnico não abrange toda a população brasileira.
Entre as recomendações do estudo está a realização de um censo nacional da população em situação de rua e a integração de dados administrativos, medidas consideradas essenciais para garantir que as políticas públicas sejam baseadas em evidências concretas.