A China anunciou nesta terça-feira, 3 de março de 2025, a suspensão temporária das importações de carne bovina de três frigoríficos brasileiros, medida que afeta diretamente um dos principais mercados de exportação do Brasil. A decisão, comunicada pelas autoridades sanitárias chinesas, foi motivada por “questões técnicas relacionadas a protocolos de inspeção”, segundo fontes oficiais. Os nomes das empresas afetadas ainda não foram divulgados publicamente.
A medida já refletiu no mercado financeiro: as cotações do boi gordo na B3 amanheceram em queda nesta quarta-feira (4), com investidores temendo impacto prolongado nas exportações. Em função da queda das cotações e redução da venda para o mercado externo, especialistas sugerem que o consumidor final brasileiro deve ter carne a preços mais acessíveis já nos próximos dias.
As autoridades alfandegárias da China suspenderam a importação de carne bovina de sete estabelecimentos situados no Brasil e em outros três países: Argentina, Uruguai e Mongólia. Em um comunicado publicado em seu site, o departamento de alfândega informou que foram suspensas as declarações de importação de dois exportadores argentinos – Frigorífico Regional General Las Heras S.A. e Frio Dock S.A. – e de três frigoríficos brasileiros: um do Frisa Frigorífico Rio Doce S/A, em Nanuque (MG), outro do Bon-Mart Frigorífico Ltda, em Presidente Prudente (SP) e um terceiro da JBS S/A, em Mozarlândia (GO). Além desses, o Frigorífico Sirsil S.A., do Uruguai, e um fornecedor da Mongólia também foram afetados, sem que as autoridades tenham informado os motivos da suspensão.
A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne (Abiec) declarou que foram identificadas não conformidades em relação aos requisitos chineses para o registro de estabelecimentos estrangeiros. Segundo a entidade, as empresas já foram notificadas e estão adotando medidas corretivas para atender às exigências da autoridade sanitária chinesa, enquanto mantém diálogo com as autoridades competentes para resolver a questão com celeridade.
O Ministério da Agricultura brasileiro afirmou estar em diálogo com as autoridades chinesas para “esclarecer os pontos técnicos” e acelerar a reabilitação dos frigoríficos. Em nota, a pasta destacou que “o Brasil mantém rigorosos padrões sanitários, reconhecidos internacionalmente, e trabalhará para resolver o impasse no menor prazo possível”.
O Brasil, a Argentina e o Uruguai figuram entre os maiores fornecedores de carne bovina para a China, que importou um volume recorde de 2,87 milhões de toneladas métricas em 2024. O aumento nas importações provocou um excesso de oferta, levando a grandes perdas nas fazendas e a uma investigação conduzida pelo Ministério do Comércio chinês. Os resultados dessa investigação, previstos para o final do ano, poderão determinar a adoção de medidas comerciais que afetem os principais exportadores, entre os quais se destacam Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos.
A suspensão ocorre em um momento sensível para o agronegócio brasileiro, que tem na China seu maior comprador de carne bovina. Em 2024, o país asiático importou mais de 2,5 bilhões de reais em proteína animal do Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Especialistas do setor sugerem que a suspensão pode estar ligada a ajustes burocráticos, como atualizações de certificados ou inspeções virtuais pendentes. “É comum que revisões periódicas gerem interrupções curtas, mas a dependência do mercado chinês exige agilidade”, explicou Luiz Carlos Carvalho, presidente da Abrafrigo.
A indefinição afeta especialmente estados como Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, principais polos exportadores. Enquanto a suspensão permanecer, os frigoríficos terão de redirecionar produtos para outros mercados, como União Europeia e países árabes, o que pode pressionar os preços internos.
A China não estabeleceu prazo para reavaliação, mas o governo brasileiro espera normalizar as operações em até 30 dias. Enquanto isso, produtores rurais e indústrias seguem em alerta, temendo prejuízos que podem ultrapassar 500 milhões de reais caso o bloqueio se estenda.