A Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, está no centro de uma investigação conduzida pelo Ministério Público Federal (MPF), que corre em sigilo, e também de uma auditoria interna da própria instituição. As suspeitas envolvem possíveis irregularidades em contratos de grande porte, que somam R$ 46 milhões. As práticas questionadas ocorreram durante a gestão do atual reitor, José Roberto Soares Scolforo, que já enfrenta um processo de improbidade administrativa desde 2014, por alegadas fraudes em licitações de projetos vinculados à universidade.
Contratos Milionários e Auditorias
De acordo com documentos da Procuradoria, a Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (Fundecc), entidade vinculada à UFLA e responsável pela execução de projetos científicos e culturais, está no epicentro das investigações. A fundação, sob a direção do reitor, foi responsável pela gestão de contratos e convênios que envolvem valores milionários. As suspeitas indicam que houve irregularidades nas licitações, especialmente nos processos que envolveram empresas com vínculos diretos com a universidade.
Entre os contratos em questão, destaca-se um recente acordo de R$ 32,5 milhões com o Ministério dos Transportes, que já liberou uma primeira parcela de R$ 3 milhões. A execução desse contrato exigiu a contratação de empresas externas, mas, segundo o MPF, as licitações não foram amplamente divulgadas e, em alguns casos, as empresas contratadas pertenciam a sócios com laços estreitos com a UFLA. Além disso, o MPF aponta que as pesquisas de mercado, usadas para determinar os preços padrão dos serviços, foram realizadas com as mesmas empresas contratadas, o que levanta sérias dúvidas sobre a legalidade do processo.
Movimentações Imobiliárias da Família do Reitor
Nos últimos dois anos, conforme levantamento do portal O Tempo, a família de Scolforo realizou movimentações imobiliárias que somam R$ 4,7 milhões. O reitor, que até abril de 2024 tinha um salário de R$ 18,8 mil, viu sua remuneração subir para R$ 25,1 mil após sua nomeação como reitor. Dentre as propriedades adquiridas pela família, estão 11 apartamentos em um condomínio em Lavras, que totalizam R$ 3,4 milhões. Dois desses imóveis foram recentemente vendidos por cerca de R$ 711 mil. Além disso, a família comprou um sítio de 63 hectares por R$ 506 mil.
Essas movimentações imobiliárias foram destacadas pela auditoria interna da UFLA, que também levantou preocupações sobre a origem dos recursos que permitiram tais aquisições.
O Papel da Fundecc e os Contratos Suspeitos
A Fundecc, presidida por Scolforo, tem sido alvo de investigações devido a uma série de contratos irregulares. A fundação desempenha papel crucial em diversos projetos vinculados à UFLA, como a gestão de terceirizados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana). No entanto, um relatório da auditoria interna revela que, durante o período analisado, a Fundecc teria subcontratado a totalidade dos serviços contratados, o que levanta suspeitas sobre a legalidade dos processos licitatórios.
Um nome que aparece com frequência nas investigações é o de Samuel Rodrigues, um dos sócios de empresas que atuaram para a Fundecc em contratos com a mineradora Vale e com o programa Bolsa Verde, do governo federal, voltado à conservação ambiental. Samuel tem vínculos com a universidade desde 2009, conforme informações de seu perfil no LinkedIn, que até 2021 destacava sua associação com a UFLA. A auditoria revelou que entre 2014 e 2020, empresas de Rodrigues mantiveram contratos com a fundação sob diversas modalidades.
Reitoria e Respostas Institucionais
Em resposta às denúncias, a Universidade Federal de Lavras afirmou, por meio de nota, que todos os contratos firmados pela Fundecc seguem as normas e processos estabelecidos pela legislação vigente, sendo submetidos a auditorias periódicas. A instituição também destacou que está colaborando com as investigações em curso, embora o reitor José Roberto Soares Scolforo não tenha respondido aos questionamentos feitos pela reportagem.
O caso está sendo acompanhado de perto pela comunidade acadêmica e pela população de Lavras, que espera respostas claras sobre as possíveis irregularidades envolvendo a gestão da universidade e a fundação que a acompanha. Enquanto as investigações prosseguem, a UFLA se comprometeu a adotar as medidas necessárias para garantir a transparência e a legalidade de seus processos administrativos.