A safra de café em Minas Gerais deve sofrer redução de 38,1% neste ano, em comparação com 2020. O 3º Levantamento de Safra, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), projeta produção de 21,4 milhões de sacas no estado nesta temporada.
O levantamento da Conab, divulgado nessa terça-feira (21/9), foi feito entre agosto e setembro, com cerca de 95% da colheita já encerrada. Os piores resultados foram registrados na região Sul e na Zona da Mata, com quedas superiores a 40% na produção, em relação à safra anterior, recorde em volume.
De acordo com a Conab, a produção de café nacional, incluindo o arábica e o conilon, será de aproximadamente 46,9 milhões de sacas beneficiadas, redução de 25,7% em relação à safra de 2020. A produção de café arábica está estimada em 30,7 milhões de sacas, 36,9% a menos se comparada ao volume da safra anterior. O conilon, por sua vez, deve alcançar produção de 16,15 milhões de sacas, com aumento de 12,8% sobre a safra de 2020.
Bienalidade negativa
Já era esperado um resultado inferior ao da última safra, devido ao comportamento fisiológico dos cafezais, que produzem menos em anos alternados, o que é chamado de bienalidade negativa. Mas as condições climáticas adversas em regiões produtoras, com seca e forte calor em várias fases do ciclo produtivo das plantas, além das geadas de julho, tiveram forte impacto na produção de 2021.
Esses fenômenos explicam a grande diferença entre os resultados da safra em Minas Gerais e no resto do país. O café arábica, que domina as lavouras do estado, é mais sensível à bienalidade e às adversidades climáticas do que o conilon, mais plantado em outras regiões.
No caso das geadas, que atingiram fortemente a região Sul de Minas, a preocupação maior é com relação ao impacto na safra de 2022. Com boa parte dos cafezais queimada pelo frio, a fase após a colheita será de tratos culturais intensos para a recuperação das lavouras, que já vinham sofrendo, desde a primavera de 2020, com prolongado período de estiagem, que, aliás, se repete neste ano.
Preços em alta
O gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) em Guaxupé, Willem de Araújo, explica que a situação financeira dos produtores é preocupante. Apesar da disparada nas cotações, eles tiveram que entregar o café nos preços negociados em 2020. Para se ter uma ideia, nesta semana, a saca de 60 quilos, no mercado físico, era negociada a R$ 1,1 mil, no Sul de Minas, mais do que o dobro do valor de um ano atrás.
Para garantir a produção nos próximos anos, será necessário arcar com a alta dos preços dos insumos, uma situação que vem se agravando desde o fim de 2020, como lembra o gerente da Emater-MG. “Em alguns casos, a safra deste ano, mesmo com esses valores muito elevados, vai ser a conta de cumprir os compromissos bancários e replantar as áreas afetadas pelas geadas. E os juros subiram também”, diz.
Em meio a esse cenário de crise, uma boa notícia. Willem Araújo garante que a qualidade do café produzido no Sul de Minas este ano está muito boa. “Os cafeicultores trabalharam bem no manejo das lavouras, e também tiveram muito cuidado na colheita e no período de pós-colheita. Estive em vários municípios, coletando as amostras para o concurso estadual, e pude comprovar que os cafés estão muito bons”, comenta.
Quanto ao clima, que tem tirado a tranquilidade dos produtores, o gerente da Emater-MG recomenda que sejam feitos investimentos em sistemas de irrigação, que, no Sul do estado, estão disponíveis em menos de 10% das lavouras. “Irrigação não é luxo, agora é uma questão de necessidade”, frisa.