Mulher é presa no RJ por envolvimento no transplante de órgãos infectados com HIV

Prisões ocorrem na segunda fase da Operação Verum, que apura emissão de laudos errados para transplantes no estado emitidos pelo Laboratório PCS Saleme

Foto: Agência Brasil / Divulgação.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu neste domingo, 20 de outubro de 2024, uma mulher suspeita de participação no escândalo que envolveu a emissão de laudos falsos pelo Laboratório PCS Saleme, resultando na infecção por HIV de seis pacientes que realizaram transplantes de órgãos no estado. A prisão foi efetuada durante a segunda fase da Operação Verum, que busca responsabilizar os envolvidos nas falhas graves que culminaram no caso inédito e gravíssimo. A identidade da mulher presa não foi revelada pelas autoridades.

De acordo com informações da Polícia Civil, além da prisão, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão, como parte do esforço para coletar mais provas que reforcem a investigação. A Delegacia do Consumidor (Decon), responsável pela operação, contou com o apoio do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) nas diligências.

Na primeira fase da Operação Verum, outras quatro pessoas foram detidas, entre elas o médico Walter Ferreira, sócio do laboratório PCS Saleme, e três funcionários: Jacqueline Iris Bacellar de Assis, Cleber de Oliveira Santos e Ivanildo Ferreira dos Santos. O laboratório, localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para realizar exames de sorologia de órgãos a serem transplantados.

As investigações conduzidas pela Decon apontam para uma falha operacional no controle de qualidade dos exames realizados no laboratório. Segundo a polícia, os testes, que deveriam ser feitos diariamente, passaram a ser realizados semanalmente, com o objetivo de reduzir custos, o que resultou em diagnósticos errados. Dois doadores de órgãos foram incorretamente diagnosticados como negativos para o vírus HIV, o que levou à infecção de seis pacientes que receberam os órgãos transplantados.

O caso foi descoberto em setembro deste ano, quando um dos pacientes transplantados, que não tinha HIV antes da cirurgia, apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para o vírus após o procedimento. A partir daí, as autoridades revisaram todos os exames relacionados ao doador e confirmaram o erro nos testes realizados pelo PCS Lab Saleme. Outros pacientes que receberam órgãos do mesmo doador também foram diagnosticados com HIV. Um segundo erro foi identificado em maio, envolvendo outro doador de órgãos.

Em resposta à descoberta das falhas, a Vigilância Sanitária interditou o laboratório PCS Saleme, e a Secretaria Estadual de Saúde transferiu imediatamente os exames de sorologia para o Hemorio, uma unidade de saúde estadual. O governo também iniciou um processo emergencial de contratação de outro laboratório, convocando o segundo colocado do pregão eletrônico que havia selecionado o PCS Saleme em dezembro de 2023, em um contrato de R$ 11,4 milhões.

As investigações revelaram que o laboratório foi contratado por meio de licitação e tinha vínculos com o deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ), ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O parlamentar negou qualquer envolvimento no processo de escolha do laboratório e afirmou que deseja que os responsáveis sejam punidos. O Ministério da Saúde, a Anvisa, as Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal, e o Sistema Nacional de Transplantes estão coordenando ações para garantir a segurança dos transplantes e apurar o caso.

O incidente é considerado sem precedentes na história dos transplantes no Brasil. Seis pacientes foram infectados com HIV após receberem órgãos de dois doadores que haviam sido erroneamente diagnosticados como negativos para o vírus. A Secretaria Estadual de Saúde e o Ministério da Saúde criaram uma força-tarefa para investigar e responsabilizar os envolvidos, além de garantir o acompanhamento médico e psicológico dos pacientes afetados.

Um dos pacientes infectados, após passar por um transplante de órgão, precisou ser internado em um hospital do Rio de Janeiro, e a SES-RJ informou que o homem foi encaminhado para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, onde recebe tratamento. A pasta também destacou que um protocolo foi estabelecido para o acompanhamento laboratorial e psicológico dos pacientes e seus familiares.

Além da prisão realizada neste domingo, a polícia continua analisando documentos e materiais apreendidos durante a operação. As autoridades investigam, ainda, a possibilidade de que outros laudos do laboratório tenham sido falsificados e estejam ligados a mais casos, já que a unidade atendia outras dez instituições de saúde no estado. A situação está sendo amplamente investigada, e o governo do estado está realizando uma revisão de todas as amostras de sangue armazenadas de doadores desde a contratação do laboratório, em dezembro de 2023.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, classificou o caso como “inadmissível” e destacou que o Ministério da Saúde está acompanhando as investigações desde o início, trabalhando em conjunto com as autoridades estaduais e federais para apurar as falhas e implementar medidas para evitar que incidentes semelhantes ocorram no futuro. Ela também ressaltou que o Ministério já estava discutindo novas regras para o Sistema Nacional de Transplantes, visando aperfeiçoar o controle de qualidade dos exames realizados em doadores.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro, o Ministério Público do estado e a Polícia Federal seguem com as investigações para responsabilizar todos os envolvidos no esquema que levou à infecção dos pacientes. Até o momento, cinco pessoas foram presas, incluindo o sócio-proprietário do laboratório e funcionários responsáveis pelos exames. A Operação Verum continua em andamento com a expectativa de que mais prisões e apreensões possam ocorrer nos próximos dias.

Notícias Relacionadas

Isso vai fechar em 20 segundos