
A rede demonstrava grande capacidade logística e organização. A droga circulava entre apartamentos, hotéis e motéis, enquanto traficantes usavam plataformas digitais para coordenar transações e controlar a distribuição. A investigação identificou uma forte interação entre as diferentes nacionalidades, com chineses, mexicanos e nigerianos desempenhando papéis complementares na cadeia de produção e distribuição.
O uso de hotéis e motéis como principais pontos de consumo destaca uma dinâmica preocupante. Conhecida por seus efeitos prolongados, a metanfetamina tem ganhado popularidade no cenário de festas e encontros prolongados. A droga, muitas vezes entregue por garotas de programa, integra um ciclo em que usuários passam dias intercalando sexo e consumo de substâncias.
Entre os envolvidos no esquema, o empresário chinês Marcos Zheng também chamou atenção. Ele estava ligado ao tráfico por meio de mensagens e transações financeiras encontradas em investigações.

Marcos Zheng, nome pelo qual é conhecido o empresário chinês Zheng Xiao Yun, tornou-se um personagem central na investigação de uma rede internacional de tráfico de metanfetamina que operava em São Paulo. Por anos, Zheng foi vice-presidente da Associação Chinesa do Brasil, um cargo que o colocava em contato com políticos, empresários e representantes da elite econômica brasileira e chinesa. Sua vida pública, marcada por eventos diplomáticos e encontros com figuras proeminentes, contrastava com as acusações de envolvimento no comércio de drogas sintéticas.
Zheng, que já foi recebido no Palácio dos Bandeirantes em reuniões com governadores como Geraldo Alckmin e João Doria, construiu uma reputação de líder comunitário e empresário influente. No entanto, sua trajetória começou a ser questionada em 2020, quando foi preso pela primeira vez sob suspeita de envolvimento no desvio de 15 mil testes de Covid-19 e equipamentos de proteção roubados no Aeroporto de Guarulhos. Apesar de negar as acusações, a situação manchou sua imagem pública.
Na atual investigação, o nome de Zheng surgiu em mensagens encontradas no celular de Pikang Dong, conhecido como “Rodízio”. As conversas revelaram uma conexão entre Zheng e a operação de tráfico, incluindo transações financeiras e referências frequentes ao endereço de Zheng como ponto de distribuição de drogas. Além disso, um carro de luxo pertencente a Zheng foi usado para transportar metanfetamina, de acordo com análises periciais.
Zheng também foi flagrado frequentando apartamentos e imóveis ligados ao esquema de produção e distribuição da droga. Em um desses endereços, os investigadores encontraram uma estrutura que funcionava como uma boate, com quartos ocupados por mulheres chinesas que, segundo os relatos, eram exploradas sexualmente como parte da operação.
Apesar das acusações, Zheng nega qualquer envolvimento, alegando que as menções a seu nome em conversas e transações financeiras são mal interpretadas. Contudo, a investigação aponta para um papel mais central do empresário, com evidências que incluem transferências bancárias, visitas a locais estratégicos e registros de interações com outros membros da rede. Zheng é apenas um exemplo de como a rede abrangia diferentes camadas sociais e profissionais.
Embora a operação tenha resultado em prisões e apreensões significativas, parte dos envolvidos segue foragida, indicando que as engrenagens desse mercado ilícito continuam ativas.