Brasil se despede de Maguila, ícone do boxe e símbolo de superação popular

Boxeador enfrentou desafios dentro e fora dos ringues, incluindo uma longa batalha contra doença neurodegenerativa

Foto: SBT / Reprodução.

Nesta quinta-feira, dia 24 de outubro de 2024, o Brasil perdeu um de seus ícones esportivos: José Adilson Rodrigues dos Santos, conhecido como Maguila. O ex-boxeador, que tinha 66 anos, morreu em São Paulo após enfrentar durante anos a encefalopatia traumática crônica (ETC), uma doença neurodegenerativa irreversível decorrente de repetidos traumas cranianos. Com seu estilo agressivo e carismático, Maguila marcou a história do boxe nacional e internacional e, com sua partida, deixa um legado esportivo e pessoal inestimável.

Nascido em Aracaju, em 1958, Maguila encontrou no esporte um caminho para superar as dificuldades da infância. Mudou-se para São Paulo ainda jovem, onde trabalhou como pedreiro enquanto buscava oportunidades no boxe, esporte que sempre o fascinou. Inspirado por grandes nomes como Muhammad Ali, ele começou sua carreira nos ringues em 1981, durante um torneio amador em São Paulo, e dois anos depois, no Ginásio do Ibirapuera, consagrou-se campeão brasileiro. Em 1987, Maguila protagonizou um dos combates mais memoráveis de sua carreira ao derrotar o norte-americano James “Quebra-Ossos” Smith, tornando-se uma referência para gerações de pugilistas no país.

Com um cartel de 85 lutas, incluindo 77 vitórias, 61 delas por nocaute, Maguila se tornou o primeiro brasileiro a alcançar um título mundial dos pesos-pesados ao conquistar o cinturão da Federação Mundial de Boxe (WBF), em 1995. Além do título mundial, ele também foi pentacampeão continental, campeão das Américas e consagrado como campeão sul-americano. No entanto, sua carreira também foi marcada por desafios ao enfrentar gigantes como Evander Holyfield e George Foreman, que o derrotaram em lutas marcantes e dramáticas para o pugilismo brasileiro. Conhecido por seu jeito bem-humorado, Maguila costumava rir ao lembrar dos combates contra Foreman, destacando a força do adversário: “Bater no velho e ele nem se mexer, ali foi problema”, dizia.

A trajetória de Maguila, no entanto, foi marcada não apenas por vitórias e derrotas nos ringues, mas também por uma luta pessoal contra a encefalopatia traumática crônica (ETC). Os primeiros sintomas surgiram em 2010, levando ao diagnóstico inicial de Alzheimer. Três anos depois, os médicos confirmaram tratar-se da ETC, conhecida também como demência pugilística, uma doença degenerativa que afeta atletas de esportes de contato, como boxe e futebol americano. Os sintomas, incluindo mudanças de comportamento e lapsos de memória, impactaram fortemente Maguila e sua família, especialmente sua esposa, Irani Pinheiro, que cuidou dele nos últimos anos e destacou as dificuldades em lidar com o avanço da doença.

Em 2018, Maguila expressou seu desejo de doar seu cérebro para pesquisas científicas, uma decisão inspirada pelo também pugilista Éder Jofre, que passou pela mesma condição e faleceu em 2022. Essa doação, que ainda depende de um processo legal para ser concretizada, permitirá que estudos sobre a encefalopatia avancem, fornecendo informações valiosas para a medicina e a segurança de atletas no futuro. Para o neurologista Renato Anginah, os estudos recentes da ETC indicam a necessidade de uma atenção maior aos traumas cranianos em esportes de contato, em especial o boxe.

A perda de Maguila também relembra a importância de políticas de proteção para atletas expostos a traumas repetidos. Marcel Simis, neurologista do Hospital Albert Einstein, destaca que a ETC é uma condição progressiva, cujos sintomas podem surgir após anos de exposição. Embora o esporte ofereça poucas alternativas para mitigar esses riscos, especialistas buscam medidas para proteger a integridade física e mental dos pugilistas.

Maguila encerrou a carreira no ano 2000, mas continuou envolvido com o esporte, fundando o Instituto Maguila para incentivar o boxe entre jovens em situação de vulnerabilidade. Além disso, seu carisma o levou a participar de programas de televisão como comentarista e até mesmo cantor, ampliando seu alcance popular. Para seus admiradores, ele sempre será um símbolo de superação e inspiração, alguém que trouxe visibilidade ao boxe e contribuiu para uma mudança na maneira como o esporte é visto no país.

Nesta quinta-feira, o Ministério do Esporte homenageou Maguila, ressaltando seu impacto no esporte brasileiro e destacando sua dedicação às causas sociais. A nação se despede com pesar, mas também com gratidão pelo legado deixado por um atleta que, dentro e fora dos ringues, lutou até o fim com coragem e generosidade.

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