Conta de luz ficará mais cara no Brasil a partir de outubro

Bandeira vermelha patamar 2 é ativada, elevando custos para consumidores e pressionando a inflação

Foto: Agência Brasil / Divulgação.

A partir desta terça-feira, 1º de outubro, a conta de luz ficará mais pesada para os brasileiros com o acionamento da bandeira vermelha patamar 2, o nível mais elevado do sistema de bandeiras tarifárias da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Essa mudança resulta em uma cobrança adicional de R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, representando um aumento significativo nas faturas de energia elétrica. O sistema de bandeiras tarifárias foi implementado para refletir os custos variáveis da geração de energia, especialmente em situações de escassez hídrica, como a atual.

Na segunda-feira (30), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação crítica de escassez hídrica no rio Xingu e em seu afluente, o rio Iriri, até o final de novembro. Essa bacia hidrográfica abastece a Usina de Belo Monte, no Pará, responsável por aproximadamente 11% da capacidade de geração de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN). A seca prolongada nas principais regiões de captação tem levado à redução dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, forçando o acionamento das usinas térmicas, que produzem energia a custos mais elevados.

Com o agravamento da estiagem, a situação tem impacto direto sobre a inflação. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, divulgou na última segunda-feira que o consumo de energia no Brasil cresceu 5,6% em agosto, comparado ao mesmo período do ano anterior, com destaque para o aumento de 5,7% no consumo residencial. Esse cenário de alta demanda, combinado com a redução na capacidade de geração de energia a partir de fontes renováveis, faz com que os preços sejam pressionados para cima.

Especialistas apontam que o aumento na conta de luz terá um impacto direto no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país. Analistas estimam que as tarifas de energia elétrica em outubro subirão entre 3,6% e 4,4%, o que pode elevar o IPCA mensal entre 0,13 e 0,17 ponto percentual. Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, afirma que essa elevação já estava prevista nas projeções da instituição. Ela ressalta que, embora haja um aumento em outubro, espera-se uma queda nas tarifas a partir de novembro, quando a bandeira tarifária poderá voltar ao patamar 1.

Apesar dessa previsão, a bandeira vermelha patamar 2 foi acionada pela primeira vez em três anos, em setembro, devido às chuvas abaixo da média que impactaram os reservatórios das hidrelétricas. Para muitos consumidores, isso representa uma mudança significativa, uma vez que a bandeira verde, sem custo adicional, esteve em vigor por boa parte de 2024. A Aneel explica que o sistema de bandeiras tarifárias foi criado em 2015 para tornar a cobrança de energia mais transparente, permitindo ao consumidor entender o impacto das variações climáticas e da oferta de energia no valor da fatura.

Além dos efeitos diretos na conta de luz, a estiagem prolongada também tem afetado outros setores da economia, como a produção agropecuária. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemanden), mais de 1.500 municípios brasileiros enfrentaram dificuldades em suas zonas produtivas em agosto, com cerca de 963 desses municípios vendo mais de 80% de suas áreas agrícolas prejudicadas. O aumento das tarifas de energia, somado aos custos crescentes de produção, tem agravado a situação dos produtores rurais, especialmente em estados como Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso.

A pressão sobre os preços da energia e dos alimentos, causada pela seca, contribuiu para que o IPCA acumulado dos últimos 12 meses atingisse 4,5%, no teto da meta estabelecida pelo Banco Central. Esse cenário de inflação persistente pode levar o Banco Central a manter a taxa Selic elevada, afetando o crédito e o consumo no país, conforme avalia Isadora Araújo, economista da GEP Costdrivers.

Com os reservatórios das hidrelétricas em níveis críticos, o Brasil precisou acionar usinas térmicas, que são mais caras e menos eficientes. Isso não apenas impacta diretamente os consumidores, mas também coloca maior pressão sobre a economia como um todo. Para os próximos meses, especialistas recomendam cautela no consumo de energia, já que as bandeiras tarifárias refletem as condições de geração e podem se manter elevadas até que os reservatórios das hidrelétricas se recuperem.

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