Nesta terça-feira, 1º de abril, é intitulado o dia da mentira, marcado por brincadeiras, pegadinhas, onde costumamos nos divertir e rir muito com os nossos amigos. Mas esta data, no atual contexto que estamos vivendo, entre a era da pós-verdade e desinformação, pode nos levar a seguinte reflexão: e se estivermos vivendo o dia dos bobos todos os dias?
Vivemos em uma época onde as pessoas preferem acreditar na “verdade” que se enquadra em suas emoções e crenças pessoais, em outras palavras, quando é alinhada a sua visão de mundo. Isso cria um terreno fértil para a propagação de fake news, já que a falta de valorização dos fatos contribui para a proliferação de informações erradas.
Um estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2024 confirma esse problema. O Brasil teve o pior desempenho entre 21 países analisados, ficando em último lugar com uma taxa de 54% de identificação de fake news, enquanto a média global foi de 60%. Ou seja, no mundo, seis a cada dez notícias falsas são desmascaradas, enquanto em nosso país o índice é ainda menor.
Foi identificado ainda que o resultado é efeito dos ambientes em que o brasileiro procura informações. Dados apontam que 85% das pessoas no Brasil têm o hábito de se informar pelas redes sociais, enquanto apenas 30% da população do Japão, da Alemanha, do Reino Unido e da Finlândia buscam por esses meios.
No Brasil a alta disseminação de desinformações está associada também ao analfabetismo funcional. De acordo com dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), uma grande parte da população brasileira enfrenta dificuldades para interpretar textos e realizar operações matemáticas simples, mesmo sabendo ler e escrever.
O INAF 2018 apontou que 3 em cada 10 brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Isso significa que, apesar de conseguirem ler palavras ou frases isoladas, têm dificuldade em compreender textos mais complexos e resolver problemas do dia a dia. Isso concluiu que apenas 12% da população atinge o nível de alfabetismo pleno, ou seja, tem total domínio da leitura, escrita e matemática.
A partir disso é possível validar a tese do professor Ivan Paganotti, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela USP. Ele destaca que indivíduos com baixa capacidade de interpretação textual são mais propensos a acreditar em notícias falsas disseminadas nas redes sociais. Além disso, o Doutor enfatiza que o analfabetismo funcional facilita a disseminação de desinformação, pois essas pessoas têm dificuldade em avaliar criticamente o conteúdo que consomem.
A solução para deixar o dia da mentira apenas em 1º de abril
A solução para a população parar de viver eternamente o dia da mentira seria, para a pesquisadora do Labjor da Unicamp Sabine Righetti, ensinar crianças e adultos a interpretar informações de forma crítica, o que acredita ser essencial para reduzir a disseminação de fake news.
Em outras palavras, incluir a educação midiática e o letramento digital no currículo currículo escolar e acadêmico, promovendo o uso consciente das mídias digitais. Iniciativas como o projeto EducaMídia, no Brasil, e o News Literacy Project, nos Estados Unidos, ensinam técnicas de verificação de informações e análise de fontes para reduzir a manipulação e fortalecer a democracia. A proposta também prevê ações governamentais e do setor privado para conscientizar a população e combater a desinformação nas plataformas digitais.
Outra forma para extinguir os problemas seria regulamentar as big techs Facebook, WhatsApp, X, YouTube, assim seria possível responsabilizá-las pela disseminação informações falsas como propõe o PL das Fake News.
O jornalismo de checagem, representado por veículos como Agência Lupa e Aos Fatos, deve ser fortalecido para garantir verificações rápidas e acessíveis.
Outro ponto crucial é a desmonetização da desinformação, conforme alerta Craig Silverman (ProPublica), além do uso da inteligência artificial para detectar padrões de fake news, como estudado por Tânia de Lima (UFPE).
Por fim, o envolvimento da sociedade civil e campanhas de conscientização são fundamentais para reduzir os impactos da desinformação e fortalecer a democracia.