Empresário Antônio Gritzbach é executado no Aeroporto de Guarulhos em crime investigado como queima de arquivo

O assassinato do delator do PCC revela esquema de lavagem de dinheiro, corrupção e detalhes da disputa pelo controle de investimentos em criptomoedas; o Canal Janela Aberta trás, em matéria especial, todas as informações disponíveis até aqui sobre o caso, que segue aberto e sob investigação

Imagem: Câmeras de Segurança / Divulgação.

Na tarde de sexta-feira, 8 de novembro de 2024, o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 42 anos, foi brutalmente assassinado no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Gritzbach, jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), havia se tornado delator do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), detalhando um esquema complexo de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo a facção, além de denunciar desvios milionários em investimentos de criptomoedas. A morte do empresário é investigada como queima de arquivo.

 

Dinheiro em criptomoedas e ascensão imobiliária

Formado em administração e engenharia civil, Gritzbach começou a trabalhar aos 15 anos e, mais tarde, ingressou no mercado imobiliário, alcançando uma posição gerencial na Porte Engenharia, construtora responsável pelo prédio Platina 220, o mais alto de São Paulo. Na construtora, ele chegou a um salário de R$ 25 mil, comissionado por vendas. Posteriormente, fundou empresas imobiliárias, incluindo a SP Investimentos e Empreendimentos, com capital registrado de R$ 4 milhões. Em 2020, Gritzbach diversificou suas atividades, adquirindo um posto de gasolina em Mogi das Cruzes, um setor também visado para lavagem de dinheiro.

O empresário investiu em criptomoedas e, segundo as investigações, foi acusado pelo PCC de desviar R$ 100 milhões, valores que deveriam ser aplicados nesse mercado digital. O desfalque causou desconfiança e atritos com Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Cláudio Marcos de Almeida, “Django”, figuras importantes na facção. Em dezembro de 2021, Cara Preta foi assassinado, e a polícia aponta Gritzbach como mandante do crime. A partir de 2022, com o aumento das ameaças, ele firmou um acordo de delação premiada e ofereceu informações ao MP-SP.

 

Envolvimento com o PCC e ameaça de morte

Nos últimos três anos, Gritzbach tornou-se alvo constante de ameaças. Em 2023, foi alvo de um atentado em sua residência, onde tiros foram disparados enquanto ele observava a lua. Desde então, ele vinha solicitando proteção ao MP-SP, mas recusava a proteção oferecida. Ao longo de suas delações, Gritzbach revelou detalhes da atuação do PCC no mercado de imóveis e futebol, acusando policiais e empresários de colaborarem com a facção para lavagem de dinheiro. Sua empresa VMA Intermediações e Negócios foi usada para adquirir propriedades com valores superfaturados e ocultar bens em nome de terceiros.

Além dos imóveis, ele acumulou um patrimônio significativo, incluindo dez unidades residenciais em São Paulo, uma casa no Guarujá, um sítio e imóveis alugados para a Prefeitura de São Paulo até 2023. Ele também possuía uma embarcação de R$ 2,2 milhões e uma aeronave avaliada em R$ 2,5 milhões. No momento da execução, ele carregava joias e dinheiro avaliados em mais de R$ 1 milhão, incluindo um relógio Rolex e outros bens de luxo.

 

A execução e as falhas de segurança

Na sexta-feira, Gritzbach chegou ao Aeroporto de Guarulhos, retornando de Maceió com sua namorada. Ele seria recebido por quatro policiais militares contratados como seguranças e por seu filho. No trajeto para o aeroporto, um dos carros de segurança quebrou, o que deixou três policiais no caminho e apenas um na área de desembarque. Por volta das 16h03, um carro preto parou em frente ao terminal, de onde dois homens armados desceram e dispararam pelo menos 27 vezes. Dez tiros atingiram o empresário, que morreu no local. Três outras pessoas foram feridas no tiroteio, incluindo o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, que não resistiu aos ferimentos e morreu no dia seguinte.

Imagens de câmeras de segurança capturaram o momento em que Gritzbach foi alvejado. Sua namorada fugiu antes da chegada da polícia. O carro dos criminosos foi encontrado abandonado em uma comunidade próxima, com munições de fuzil e um colete à prova de balas. As circunstâncias em torno do crime despertaram suspeitas sobre a atuação dos seguranças, uma vez que apenas um estava presente no local. A Polícia Civil e a Corregedoria da PM investigam se houve falha intencional na proteção do empresário.

 

Suspeitas de corrupção e a escalada de violência

Ao longo de suas delações, Gritzbach denunciou a corrupção de policiais, alegando que agentes de várias unidades policiais facilitavam as operações do PCC em troca de propinas. Além disso, ele revelou o envolvimento da facção com empresas de futebol, lavagem de dinheiro no setor imobiliário e o desvio de recursos milionários em criptomoedas. Segundo o DHPP, o homicídio do empresário reforça a suspeita de queima de arquivo, dada a quantidade de informações que ele havia oferecido ao MP.

Em entrevista coletiva, o secretário de Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, afirmou que a investigação não descarta nenhuma hipótese, incluindo o envolvimento de policiais na execução. “Não temos indícios de participação de policiais na execução, mas alguns fatos chamam a atenção, como o atraso da escolta no dia do crime”, declarou o secretário. Ele acrescentou que as peças do “quebra-cabeça” da investigação ainda precisam ser apuradas, especialmente com o auxílio de perícias nos celulares dos envolvidos.

O secretário também anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar o caso. A equipe será coordenada por Osvaldo Nico Gonçalves, delegado executivo da SSP, e contará com especialistas da Polícia Civil, PM e peritos criminais. A resolução oficializando o grupo foi publicada no Diário Oficial de São Paulo nesta segunda-feira, 11 de novembro.

 

Motorista de aplicativo alvejado durante o ataque faleceu no hospital

O ataque no aeroporto também deixou outras pessoas feridas, uma deles de maneira fatal. Entre os feridos no ataque estava Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, motorista de aplicativo que deixava o terminal quando foi atingido por um disparo de fuzil nas costas. Gravemente ferido, Celso foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos. Após uma cirurgia de emergência, ele perdeu um rim e parte do fígado, mas devido à gravidade dos ferimentos e à perda significativa de sangue, não resistiu e faleceu no sábado, 9 de novembro.

Celso, que era o principal provedor de sua família, deixa a esposa e três filhos, de 18, 12 e 3 anos. Segundo amigos próximos, ele costumava trabalhar no aeroporto e era bastante conhecido e querido entre os colegas de profissão. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e sepultado no domingo, no Cemitério da Vila Rio, em Guarulhos.

 

O caso segue em investigação, com a apreensão dos celulares dos seguranças e da namorada do empresário, enquanto o DHPP busca entender os motivos e os detalhes da operação que resultou em uma das execuções mais impactantes da recente história criminal de São Paulo. Veja detalhes da execução no vídeo abaixo:

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