O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, pediu demissão, nesta quarta-feira (19), após a divulgação de imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro mostrarem ele e outros integrantes do órgão junto a invasores da sede do governo federal. A informação foi confirmada em nota pela assessoria do Palácio do Planalto.
“Todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI”, disse o Planalto na nota.
De acordo com a CNN, o até então ministro apareceu nas imagens registradas às 16h29. Ele aparece primeiro sozinho, no terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete poresidencial. Depois, tenta abrir duas portas e entra no gabinete. Na sequência, ele aparece de novo no mesmo corredor, com alguns invasores. As imagens sugerem que ele estava indicando a saída de emergência ao grupo. Outros integrantes do GSI fazem o mesmo e chegam a conversar e cumprimentar os bolsonaristas.
Em nota, o Gabinete de Segurança Institucional afirmou que “as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos”.
O general Gonçalves Dias foi confirmado como ministro por Lula em dezembro de 2022. Homem de confiança do petista, ele coordenou a segurança do presidente em seus dois primeiros mandatos.
Veja a nota na íntegra:
“A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio.
As imagens do dia 8 de janeiro estão em poder da Polícia Federal, que tem desde então investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais.
No dia 17 de fevereiro, a Polícia Federal pediu autorização para investigar militares e, a partir do dia 27 de fevereiro, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), tem realizado tais investigações, inclusive com a realização de prisões.
Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI.
O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio.
E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.
A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro”.
CPMI deve ser instalada no Congresso
Antes da confirmação do pedido de demissão, aliados do presidente Lula já avaliavam que a permanência de Gonçalves Dias no cargo iria fragilizar muito a posição do governo federal, que até esta quarta adotava uma postura de tentar evitar a instalação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso para investigar os atos criminosos de 8 de janeiro. As informações são da analista de política Renata Agostini.
Para a base do governo, a revelação das imagens tornou a instauração de uma CPMI praticamente inevitável. Mesmo que pareça clara a responsabilidade pessoal de Gonçalves Dias em estar presente durante os atos criminosos, institucionalmente fica difícil negar a omissão do Gabinete de Segurança Institucional, que já vinha sendo investigado pela Polícia Federal (PF).
No Twitter, a deputada federal e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, endossou as afirmações presentes na nota divulgada pelo governo federal e disse que os “agentes filmados colaborando com invasores do Planalto eram do governo Bolsonaro, do GSI [comandado por] do general Heleno, que ainda não haviam sido substituídos”.
Imagens divulgadas pela CNN mostram Gonçalves Dias no Planalto durante ataque aos Três Poderes
A saída do general ocorre após a divulgação de vídeos exclusivos da CNN do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto. Eles exibem Dias dentro do Palácio durante o ataque aos Três Poderes que ocorreu em 8 de janeiro, mais precisamente às 16h29.
Veja as imagens:
Inicialmente, ele caminha sozinho no terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, tenta abrir duas portas e depois entra no gabinete.
Após alguns minutos, o ministro aparece caminhando pelo mesmo corredor com alguns invasores. As imagens sugerem que ele indica a saída de emergência ao grupo de criminosos.
Em seguida, surgem nas imagens outros integrantes do GSI, que parecem indicar também o caminho de saída para os invasores que estavam no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Também é possível ver um capitão do Exército, integrante do GSI, circulando entre alguns invasores. Em uma das câmeras, na antessala do gabinete presidencial, ele faz um gesto a uma invasora e abre uma porta.
O capitão do Exército aparece conversando com alguns invasores e, em seguida, os cumprimenta com um aperto de mão.
Outra câmera do terceiro andar, em outro momento, registra o mesmo capitão do Exército tentando conter um dos vândalos. No entanto, o responsável pela segurança não reage quando outro criminoso pega um extintor de incêndio.
Segundo apuração da reportagem, o capitão do Exército e responsável pela segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, atualmente, não integra mais a equipe do GSI.
*Via: Tiago Tortella e Fernanda Pinotti / CNN