O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retomaram oficialmente, na segunda-feira, 06 de outubro, o diálogo direto entre Brasília e Washington. A conversa, realizada por telefone e descrita por ambos como “cordial e produtiva”, durou cerca de 30 minutos e abordou temas comerciais, diplomáticos e ambientais, abrindo caminho para um reencontro presencial em breve.
De acordo com nota do Palácio do Planalto, Lula afirmou que o contato representa “uma oportunidade de restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. O gesto é interpretado como o início de uma nova fase diplomática entre os dois países, após períodos de tensão política e comercial.
Durante o diálogo, Lula destacou que o Brasil é um dos três países do G20 com superavit comercial com os Estados Unidos e solicitou a retirada da sobretaxa de 40% aplicada a produtos brasileiros, além da revisão de medidas restritivas a autoridades nacionais. O presidente também reiterou o convite a Trump para participar da COP30, que será realizada em Belém (PA) no próximo mês.
Em publicação na rede Truth Social, Trump classificou o contato como uma “ótima ligação” e afirmou que pretende estreitar os laços econômicos com o Brasil.
“Discutimos muitas coisas, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante. Gostei muito da conversa — nossos países farão grandes coisas juntos”, escreveu o republicano.
Segundo o governo americano, Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para conduzir as negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Do lado brasileiro, participaram ainda o ministro da Secom, Sidônio Palmeira, e o assessor especial Celso Amorim.
Lula sugeriu que o primeiro encontro presencial possa ocorrer durante a Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), no fim deste mês, na Malásia, ou durante a COP30.
O vice-presidente Geraldo Alckmin descreveu a ligação como “melhor até do que nós esperávamos”, destacando a boa receptividade de Trump e o tom otimista do diálogo.
“Boa química, conversa proveitosa e de 30 minutos. Agora teremos desdobramentos importantes, com investimentos recíprocos e avanços na questão tarifária”, afirmou.
Alckmin também reforçou o pedido brasileiro pela retirada da tarifa extra de 40% sobre exportações nacionais e considerou o contato “um passo positivo rumo ao ganha-ganha”.
Mercado reage positivamente
O mercado financeiro reagiu de forma imediata à notícia. O dólar fechou em queda de 0,49%, cotado a R$ 5,3107.
Para o economista André Perfeito, a movimentação reflete o impacto do gesto diplomático. “A ausência de outra notícia relevante sugere que a conversa entre Lula e Trump influenciou a valorização do real, indicando uma volta gradual à normalidade nas relações”, avaliou.
Apesar disso, o economista ponderou que o movimento ainda é pontual e que a confiança estrutural dependerá de resultados concretos nas negociações comerciais.
Degelo diplomático, mas instável
O cientista político Márcio Coimbra avaliou que o contato representa um “degelo tático” entre os dois países.
“Há um padrão de pragmatismo diplomático em meio a tensões comerciais e políticas, com Lula buscando revogar tarifas e Trump priorizando o foco econômico”, observou.
Segundo ele, o cenário ainda é incerto: “A ausência de concessões concretas e as agendas divergentes — como o convite de Lula à COP30 sem confirmação — indicam que o diálogo é positivo, mas frágil, com riscos de recaída caso não haja avanços reais”, concluiu.































































