A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu interditar a linha de cremes dentais ‘Clean Mint’, da Colgate, após receber diversas notificações de consumidores que relataram lesões bucais. A medida cautelar foi publicada nesta quinta-feira, 27 de março, no Diário Oficial da União e entra em vigor imediatamente.
Segundo a Anvisa, a decisão foi tomada devido ao “volume significativo de relatos de eventos adversos” relacionados ao produto. Enquanto a investigação está em andamento, a interdição serve como precaução para evitar possíveis riscos à saúde dos consumidores. Dependendo da análise, a agência pode adotar medidas mais rigorosas, incluindo a proibição definitiva da fabricação e comercialização da linha afetada.
A empresa Colgate até o momento não se manifestou.
Entenda o Caso
A recente mudança na composição de cremes dentais da Colgate tem gerado reclamações de consumidores, que relataram reações adversas, como alergias e inflamações na boca. As queixas envolvem a linha anteriormente conhecida como ‘Total 12’, agora chamada de ‘Prevenção Ativa’. O caso está sob análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Desde a reformulação do produto, lançada em novembro de 2024, mais de mil reclamações foram registradas na plataforma ReclameAqui. Na época do lançamento, a Colgate destacou que a nova fórmula seria a mais eficaz na prevenção de doenças bucais. Em um vídeo publicitário, a empresa afirmou: “A fórmula superior de Colgate Total, como nenhuma outra, destrói as bactérias e cria uma poderosa barreira de proteção por até 24 horas, e previne que elas voltem”.
A principal mudança foi a substituição do fluoreto de sódio pelo fluoreto de estanho. Segundo a Anvisa, entre janeiro e março de 2025, foram registradas oito notificações formais e 13 casos documentados de reações adversas associadas ao novo creme dental.
Os consumidores afetados relataram sintomas como inchaço nas amígdalas, lábios e mucosa oral, além de queimação, ardência, sensibilidade gengival, aftas e vermelhidão. A advogada e influenciadora Luiza Guimarães foi uma das pessoas impactadas. Ela percebeu lesões na boca que começaram a desaparecer somente após interromper o uso do produto.
“E o pior é que você nunca vai imaginar que é uma pasta de dente que está te dando alergia, principalmente porque é uma que a gente sempre usa, usou a vida inteira”, relatou em suas redes sociais. “Quando eu ia escovar o dente me dava até vontade de chorar e é a pasta de dente, pensa bem. Que absurdo!”, desabafou, mostrando feridas na língua e gengiva.
Outro caso semelhante foi o do estudante Pedro Maciel, de 25 anos, que, em janeiro, desenvolveu dezenas de aftas na boca e feridas na língua. “Eu nunca tive tantas aftas na boca, foram mais de 50, sem nenhum exagero, e várias ao mesmo tempo. Isso durou quase um mês, fui em quatro médicos e nenhum soube dar um diagnóstico, suspeitaram de estomatite e candidíase e me passaram remédios para tratar os sintomas”, contou ele. Após deixar de usar o creme dental, os sintomas começaram a desaparecer.
A dor e as lesões chegaram a comprometer sua alimentação por quase uma semana. “Tudo que eu comia era gelado, um sorvete, açaí e até mesmo uma sopa eu não aguentava comer quente”, afirmou.
Em resposta às reclamações, a Colgate confirmou que a nova fórmula contém fluoreto de estanho e defendeu a segurança do ingrediente. “Um ingrediente seguro, eficaz e amplamente usado em cremes dentais em todo o mundo. A nova fórmula é o resultado de mais de uma década de pesquisa e desenvolvimento e testes extensivos com consumidores, inclusive no Brasil, para proporcionar às pessoas uma excelente saúde bucal. Nossos produtos e seus ingredientes passam por testes rigorosos e são aprovados por agências regulatórias em todo o mundo. No entanto, uma pequena minoria das pessoas pode apresentar sensibilidade a determinados ingredientes – como fluoreto de estanho, corantes ou sabores”, informou a empresa.
A fabricante orienta os consumidores que apresentarem reações adversas a interromperem o uso do produto para alívio dos sintomas. “Nossa equipe monitora atentamente esses tipos de relatos e acompanha cada situação individualmente. Para consumidores com dúvidas, contamos com um canal de atendimento por meio do 0800 703 7722”, acrescentou a nota da empresa.
O Conselho Federal de Odontologia (CFO) também foi consultado, mas informou que, até o momento, não recebeu reclamações sobre o produto. “O CFO está aguardando informações da empresa fabricante para que possa se manifestar. O Conselho reforça o compromisso com a proteção integral da saúde bucal da população”, declarou a entidade.
